12 October 2014

O Indispensável Treino da Vagueza

DocLisboa 2014 / Competição Nacional Curtas / Lisboa, PT
Projecções:
21 OUT - CINEMA S. JORGE . 18:30h
23 OUT - CINEMA CITY CLASSIC CAMPO PEQUENO - SALA 3 . 15:15h

FICHA TÉCNICA:
Documentário, 45’, HD, 2014
Realização: Filipa Reis, João Miller Guerra
Montagem: Tomás Baltazar
Pós-Produção de Som: Carlos Abreu
Correcção de Cor: Andreia Bertini
Produção: Uma Pedra no Sapato Filmes Em parceria com: Ingreme
Uma encomenda: Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual

SINOPSE
“Fazer chegar um novo através de coisas que não são exactamente novas.”
Manuel Castro Caldas

O Ar.Co é uma geografia de cada um, foge à normalização. A experiência é individual. Este filme é a minha, a nossa experiência. Construído a partir do arquivo da escola, de aulas gravadas de Manuel Castro Caldas e de conversas caseiras.
 João Miller Guerra

NOTA DE INTENÇÕES
“O Indispensável Treino da Vagueza” parte de um convite que me foi feito a mim João Miller Guerra, na qualidade de aluno da escola de arte independente Ar.Co, por Manuel Castro Caldas, director da escola, para a realização de um filme que celebrasse os 40 anos da instituição.
Estendi naturalmente o convite a Filipa Reis com quem partilho o trabalho e a vida. Aceitámos este convite com a premissa de que não o tomaríamos como um mero filmeencomenda mas sim como um pretexto para uma auto-reflexão. Mais tarde, ganhamos um cúmplice na montagem: Tomás Baltazar.
Este é um filme construído na mesa de montagem a partir do arquivo audiovisual do Ar.co, de aulas gravadas de Manuel Castro Caldas e de conversas que procuraram reflectir sobre a experiência do ensino artístico, as dificuldades do processo criativo e as relações entre o trabalho e a vida material.
Considerando a importância desta escola na formação de tantos artistas em Portugal, partimos, em primeiro lugar, de uma curiosidade sobre o seu acervo. Que imagens e que sons fariam parte do arquivo e que reflexões surgiriam a partir desse material? Foi para nós bastante importante termos acesso aos exercícios que tantos artistas produziram neste contexto e deixarmos que a nossa intuição guiasse a construção deste filme a partir do material pré-existente.
Por outro lado, o impacto que as aulas de Manuel Castro Caldas às sextas à tarde tiveram em mim (João), fez com que este se tornasse obrigatoriamente personagem do filme e o seu discurso uma linha condutora do processo de montagem.
A articulação entre o seu discurso intelectualizado sobre a arte e as diversas práticas contidas no acervo levou-nos também à necessidade de um contraponto mundano sobre a experiência concreta de ser aluno da escola e de como essa experiência foi sendo gerida num contexto familiar e íntimo. Aí entramos nós (João e Filipa) como personagens do filme. O material trabalhado em conjunto com o Tomás na mesa de montagem foi guiando os temas das nossas conversas.
A decisão de virar a câmara para nós próprios surge, em primeiro lugar, de uma vontade de experimentar a exposição que, nos filmes que co-realizámos até aqui, “infligimos” a outros. A intimidade tem sido um dos valores mais importantes que temos trabalhado. Este filme é aquele em que mais directamente assumimos esse trabalho e testamos os seus limites. Por outro lado, havia, neste filme, a vontade de criar um choque com o resto do material, de puxar para uma reflexão terrena, específica e quotidiana. Este filme é, nesse sentido, um grande exercício de colagem.
“O Indispensável Treino da Vagueza” deve-se a um encontro cruzado de caminhos de intuição que foram sendo partilhados, uma enorme vontade de espelhar e repensar o que ao longo de quarenta anos tem sido, esse sim, um indispensável trabalho da vagueza. O Ar.Co "é um sonho e amor por conseguir", citando Lorca, é uma escola que não envelhece, que se retira do hedonismo e da seriedade da vida, relembrando que existe a intuição, o visceral, o íntimo, e acima de tudo o sobrenatural enquanto força que transcende para a arte. A partilha das conversas que fomos tendo no nosso espaço interior, intensificaram ainda mais este diálogo (in)directo, fazendo-nos crescer na geografia dos afectos, enquanto co-autores, e acima de tudo crescer mais na direcção do humano.
Procurou-se, através da colagem, acentuar o carácter mais lunático do trabalho artístico presente neste acervo. Interessava trazer para este filme sobretudo momentos de criação livre e não momentos de puro registo ou de enquadramento da instituição. Sob este critério, foram escolhidos e alinhados de forma mais ou menos cronológica os seguintes trabalhos: “Simpósio Internacional de Escultura em Pedra” de Manoel de Oliveira e Manuel Casimiro, “Imaginações da Matéria – O Teatro e as Sombras” de Lourdes Castro e João Matos Silva, “Imaginações da Matéria – O Corpo e o Espaço” de Mikala Marcus, Jean-Max Albert e João Matos Silva, “Imaginações da Matéria – A Matéria e o Símbolo” de José Nuno Câmara Pereira e João Matos Silva, “Ar.Co, 25 anos” de Pedro Tropa, “Cream Dream” de Joana Vasconcelos e Vítor Rua, “Repete, Repete, Repete” de Marcelo Costa e Gustavo Sumpta, “Jeg Har Drom” de Inês Oliveira, “Mercedes Tristesse” de Paulo Martins, “Empty Spaces” de Maria Mire, “Objecto ultra-Rápido” de Teresa Rothes, “Entrevista Avariada” de João Chaves, “5 Vozes” de Alexandre Camarão e “Ra Cor” de Miguel Tavares. Este filme goza ainda e também de um “indispensável treino” da generosidade. Contou apenas com um orçamento total de dois mil euros, apoio conseguido pela própria escola junto do seu parceiro - Câmara Municipal de Almada.