06 February 2014

Culturgest: Cinema

Sobre o trabalho da montagem em artistas que usam o filme
Encontros com os filmes de James Benning, Peter Hutton, Larry Gotheim, Arthur Cantrill, Corinne Cantrill e vídeos de Sérgio Taborda

QUA 12, QUI 13, SEX 14 DE FEVEREIRO
Pequeno Auditório 3,50€ (preço único)

Conceção Sérgio Taborda
Uma proximidade atenta ao que acontece e se manifesta fisicamente no quotidiano onde se está e se vive enquanto aparece – a duração do que aparece – e a capacidade própria para nos colocar no aparecer do acontecimento, atravessa o núcleo de filmes que se irão ver no decorrer deste ciclo de filmes e vídeos acolhido pela Culturgest com escolhas que fiz enquanto artista-investigador residente no Arsenal – Instituto do filme e vídeo arte em Berlim, entre 2010 e 2013, com uma bolsa de investigação individual pós-doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). As escolhas destes filmes pertencentes ao arquivo do Arsenal foram decididas a partir dos encontros que fui tendo ao visionar filmes de James Benning, Peter Hutton, Larry Gotheim, Arthur Cantrill, Corinne Cantrill, da experiência de vê-los e do que suscitaram ao vê-los e não tanto de um programa previamente definido. Encontros no sentido daquilo que estes filmes revelam da maneira como são filmados; o que se filma – a natureza singular dos acontecimentos capturados – as decisões tomadas do que entra em campo na imagem, deixando tempo para nos envolvermos com o que acontece, que imerge com uma duração própria e não como algo que resulta e se resolve posteriormente, manipulando na montagem a sua edição final. Como é que enquanto espectadores diante destes filmes apreendemos o tempo de um acontecimento, e em que medida é que essa situação nos confronta com questões de perceção do tempo que são de outra natureza das que o cinema levanta – embora diretamente envolvidas com a modelação cinematográfica do tempo –, são algumas das perguntas suscitadas pelas decisões de montagem que estes filmes revelam. Entre mostrar e montar um acontecimento, molda-se nos diferentes gestos de montagem implicados nestes filmes um outro uso do intervalo da interrupção e do corte criado entre imagens ou no fluxo de uma imagem. As imagens surgem deste modo ao espectador de uma forma radicalmente diferente das imagens vividas no cinema, abrindo um campo.

Quarta, 12 de fevereiro 21h30 James Benning One Way Boogie Woogie / 27 years later, EUA, 1977-2004, 16mm, cor, sonoro, 120’
O filme com que o ciclo começa foi dos primeiros encontros que tive logo na segunda sessão de visionamento na moviola da sala dos projecionistas do arquivo de filmes do Arsenal (Berlim) em março de 2010. Filmado em 1977 na região de Milwaukee (Wisconsin) onde James Benning nasceu, decide aí voltar para retomar em 2004 as mesmas ações nos locais onde filmou 27 anos antes – com subtis mudanças nalguns casos – e nesse intervalo é a própria erosão que o tempo imprimiu nos sítios que passa nas imagens do filme.

Quinta, 13 de fevereiro 21h30 James Benning Ten Skies, 2004, 16mm, 101’
Filmado em Val Verde, Califórnia, Ten Skies capta mudanças das massas de nuvens, luz e densidades dos céus em diferentes momentos dos dias e condições atmosféricas. A duração certeira dos planos fixos, num total de dez, cada um com 10 minutos, coloca-nos de imediato num atento ponto de vista e de escuta do que aí aparece enquanto aparece. James Benning estudou em Los Angeles tendo começado por ter uma formação em Matemática – o que é relevante numa quantidade de operações de montagem e critérios de edição dos seus filmes baseados em equações matemáticas – fez um mestrado em Matemática na Universidade de Wisconsin, Milwauke (1970) e mais tarde (1975) um mestrado em Artes Plásticas na Universidade de Wisconsin.

Sexta, 14 de fevereiro 18h30 Sérgio Taborda Sequência 7 – Sequência 8, 2002-2013, MiniDV, 60’
Sexta, 14 de fevereiro 21h30 Peter Hutton New York near sleep for Saskia, 1972, 16mm, 8’Images of Asian Music: A Diary from Life, 1973-1974, 16mm, 26’ Larry Gotheim Barn Rushes, 1971, 16mm, 30’ Arthur Cantrill, Corinne Cantrill Heat Shimmer, 1978, 16mm, 12’
Peter Hutton estudou escultura no San Francisco Art Institute com Robert Hudson, William Wiley, Bruce Nauman e Alan Kaprow que introduziu nesse contexto a ideia de happenings. Frequentou as aulas de Bruce Conner e viu os filmes de Stan Brakhage e Robert Nelson. Em New York near sleep for Saskia (EUA, 1972), captura e monta uma série de observações quotidianas do que via do seu apartamento situado em Manhattan quando chegou a Nova Iorque em 1972, aonde decidiu ficar a viver, vindo da Califórnia. Em Images of Asian Music: A Diary from Life (1973-1974), monta imagens captadas diariamente, entre 1973 e 1974, numa viagem de navio da marinha mercante em que trabalhou com destino à Tailândia. Larry Gotheim tem uma formação anterior em Literatura tendo feito um doutoramento em Literatura Comparada (Comparative Literature) na Universidade de Yale. Criou durante os anos 70 o departamento de filme em SUNY – Binghamton convidando, entre outros, Peter Kubelka, Ernie Gehr, Nicholas Ray a nele realizarem workshops. Trabalha em Barn Rushes (1971) a aproximação a um mesmo sítio/lugar situado algures nas imediações de Nova Iorque perto de onde vivia na altura e por onde passava todos os dias. Decide voltar ciclicamente a esse lugar captando algumas das suas mudanças físicas em lento travelling com a câmara dentro do carro em diferentes momentos do dia, durante dois meses seguidos. Arthur Cantrill, Corinne Cantrill (nasceram em Sydney, Austrália, respetivamente em 1938 e1928) têm realizado juntos filmes em 16mm desde 1960. Depois de terem trabalhado durante 4 anos em Londres onde Arthur Cantrill era editor de filmes na BBCTV regressaram à Austrália em 1969 com uma bolsa em Creative Arts na Australian National University em Canberra no decorrer da qual realizaram vários novos filmes. Desde essa altura concentraram-se na realização de filmes experimentais e filmes-performances entre os quais Expanded Cinema, um filme-performance apresentado em Melbourne em 1971. Têm mantido uma atitude de permanente investigação em diferentes direções de pesquisa; no modo como usam o filme (recorrendo a projeções em múltiplos écrans) na relação do filme com a performance, na exploração do plano fixo e na história do nascimento do filme. Realizado na Austrália em 1978, Heat Shimmer foi um dos primeiros filmes envolvidos com a singular paisagem da Austrália Central concentrado nas subtis mudanças provocadas pelas massas/ondas de calor que aí se acumulam e agem fisicamente de modo intenso sobre a luz do território que atravessam. Esta proximidade com acontecimentos quotidianos nos filmes que juntei neste ciclo, encontra-se a seu modo no que capto e entra em campo do que retém a minha atenção onde quer que esteja e se me revele de maneira inesperada a qualquer instante. A atenção que o fixa e o tempo que passa.

Informações
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